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Ponto de Vista-se: um paralelo entre o caso do turbante, apropriação cultural e veganismo

Aprofunde-se no assunto, não comente antes de ler tudo.


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Antes de tudo, vamos esclarecer o que é Ponto de Vista-se, uma expressão nova aqui no portal. Nessa nova categoria, disponível no menu, vamos abordar temas relevantes que não estão diretamente ligados ao veganismo, mas que podem ser entendidos sob o ponto de vista vegano.


Se você não está familiarizado com a polêmica sobre o caso do turbante, aconteceu o seguinte: uma garota branca diz ter sido repreendida por garotas negras nas ruas de Curitiba por estar usando turbante. O turbante foi apontado pelas garotas negras – segundo relata a garota que teria sido hostilizada – como uma peça da cultura africana que não deveria ser usada por pessoas brancas.

Para quem não está inserido na luta do povo negro contra o racismo – situação da maioria dos veganos – é difícil entender o que motivou as garotas negras a repreenderem a garota de turbante. Os primeiros pensamentos são: “Se for assim ninguém mais pode usar saias ou acessórios indianos”. Ou “Se for assim vamos todos parar de usar calça jeans e de ouvir rock and roll”.

De fato, o mundo é feito de manifestações culturais diversas e essa realidade é ainda mais clara na miscigenação do povo brasileiro. E essa mistura de culturas é quase sempre benéfica para todos. Mas a questão é mais profunda do que isso, e é por isso que não se pode sair comentando sem entender os dois lados. Essa premissa deveria valer para todos os assuntos, aliás.

A explicação mais detalhada sobre o que é apropriação cultural e como ela pode ser nociva para a luta de uma minoria você encontra no excelente vídeo que está abaixo, do youtuber Murilo Araújo, do canal Muro Pequeno (conheça aqui). Mas vamos agora fazer um paralelo com o que acontece na causa vegana para ficar mais fácil para os veganos entenderem o problema.

Os veganos pertencem a uma minoria, já que a maior parte da sociedade consome e explora animais. Portanto, apenas por esse motivo, já deveríamos olhar com mais empatia para causas de outras minorias. Mesmo que, no fim, não concordemos com o pleito alheio.

No caso do uso do turbante, parece haver um consenso entre os que estão na luta do povo negro de que os alvos de críticas do uso do turbante deveriam ser as empresas de produtos e de comunicação, e nunca a garota branca de turbante na rua.

É essa a opinião do youtuber Murilo Araújo, do vídeo abaixo, e também da mestre em filosofia política e feminista negra Djamila Ribeiro, que também escreveu sobre o assunto no site AzMina (leia aqui).

Portanto, a atitude de abordar a menina branca não foi a mais acertada. Criticar revistas de moda que mostram turbantes e outros itens da cultura afro apenas com modelos brancas e sem nenhuma contextualização seria um gasto de energia mais apropriado.

No movimento vegano acontece algo parecido. Quando uma pessoa que come carne aparece na televisão se dizendo vegetariana, o movimento vegano critica na hora, pois é uma apropriação indevida de termo. Foi o que aconteceu mais de uma vez com a apresentadora Angélica, que se diz vegetariana, mas fez propaganda de salsichas convencionais (de carne) e experimenta até hoje diversos pratos com animais em seu programa, o Estrelas.

Pois bem, há uma concordância no movimento animalista de que uma pessoas não pode sair por aí dizendo que uma receita com ovos é vegana, por exemplo. Isso seria, mais uma vez, uma apropriação de termo feita de forma totalmente errada, distorcida. Divulgar uma receita com derivados de animais como sendo vegana causa desinformação, uma vez que o movimento vegano perde lógica e credibilidade se tudo puder ser chamado de vegano.

Por outro lado, há vários pratos veganos com nomes de pratos originalmente feitos com carne ou secreções animais como feijoada, estrogonofe, coxinha, queijo e muitos outros. Por que isso não é uma apropriação indevida de termo, então?

Porque quando veganos usam a expressão “carne de jaca”, por exemplo, não descaracterizam o que é a carne porque a carne é amplamente conhecida, consumida e cultuada. Já uma pessoa que come carne chamar um suflê feito com ovos de “suflê vegano” pode destruir todo o conceito que essa filosofia de vida tenta construir ao longo dos anos e que ainda é frágil perante a sociedade.

Da mesma forma, mostrar turbantes africanos apenas em garotas brancas em revistas e programas de TV que falam de moda pode fazer com que a cultura negra perca força, tenha destruído o que vem construindo lentamente ao longo dos anos.

Esse texto não tem pretensão de ser o fim do caminho nessa discussão, e sim uma luz instigante para que suas pesquisas sobre o assunto possam se aprofundar.

Assista ao vídeo | YouTube


Atualização no dia 13/02/2017 às 11h40: atualizamos uma informação que não muda o centro do assunto, mas que estava errada. A garota em questão foi abordada em Curitiba, e não em São Paulo, como dissemos antes.

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