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Após entrevista polêmica, Daniel Meyer não usará mais a camiseta da equipe Força Vegana

Entenda o que aconteceu.


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Um dos expoentes entre os atletas veganos do Brasil, o ultramaratonista e ironman Daniel Meyer não competirá mais usando a camiseta da Equipe Multiesportiva Força Vegana.

Embora Daniel tenha sido um dos fundadores e talvez o principal entusiasta da Força Vegana, ele se desligou do grupo de atletas na noite dessa segunda-feira (11) após receber severas críticas (veja aqui).

Com mais de 6 mil atletas interessados em esporte e veganismo, o grupo da equipe Força Vegana publica entrevistas com atletas veganos de destaque no país. A última entrevista publicada (e depois apagada) foi justamente com o atleta catarinense Daniel Meyer.

Quando perguntado sobre há quanto tempo é vegano, Daniel fez uma revelação que gerou as críticas que recebeu. A resposta dada pelo atleta é longa, mas decidimos colocá-la na íntegra para não corrermos o risco de tirar conclusões fora de contexto.

“Esta resposta poderá chocar alguns ‘puristas’ mais preocupados com o rótulo do que com a amplitude da causa em si.

Me considero vegano há 11 anos. Apesar de nesse meio tempo, em algumas 4 ou 5 ocasiões especiais ter comido peixe e marisco de uma forma que considero ‘limpa’, não exploratória e que não fere os meus princípios. Nestas ocasiões eu estava acampado nos costões de Bombinhas, entre mar e mata. Foram verdadeiros retiros espirituais, momentos em que vivi parcialmente retirado da sociedade, procurando viver de uma forma mais natural, menos agressiva e integrada à Natureza. Neste contexto, conseguir parte de meu alimento com minhas próprias mãos, fazia parte da experiência. Minha última vivência desta natureza se deu ao fim de 2014 e durou aproximadamente 3 meses, durante este período, uma vez por semana eu retornava à civilização (digamos assim) para comprar comida (vegana), mas também coletava mariscos e raramente pescava.

Nunca em toda minha vida me senti tão feliz, foram 3 meses vivendo com quase nada e ainda assim eu sentia que possuía tudo que precisava. E acredite, se existiu algo desconfortável nestes 3 meses, não foi pescar, matar e comer peixe e marisco, essas atividades me integravam à natureza, desconfortável era sair de onde eu estava para comprar comida no mercado, sair da paz em que estava e me deparar com as loucuras do mundo civilizado. Quando eu estava no costão coletando ou pescando meu próprio alimento, havia respeito e eu estava conectado à natureza, participava de todo o processo. No entanto, em um simples pacote de aveia comprado no mercado eu conseguia ver a natureza sangrando, violência travestida em forma de alimento. Não foi difícil perceber que qualquer produto de nossa sociedade, em maior ou menor intensidade, estava impregnado desta camuflada violência que ninguém parece conseguir (querer) enxergar, pelo simples fato de que todo o sistema está assentado sobre fundações podres e destrutivas.

Após estas experiências, percebi que o significado de veganismo precisa ser reformulado, pois (por mais absurdo que isso possa parecer) eu me senti mais de encontro com a essência do veganismo enquanto estava vivendo no costão pescando, do que quando comia macarrão morando na cidade. Nas cidades, vivendo da forma que nos foi convencionada como sendo ‘NORMAL’, mesmo o modo de vida vegano, que procura excluir na medida do possível todas as formas de exploração animal, ainda assim, indiretamente, impacta de maneira violenta a natureza das quais os animais também fazem parte.

Quando retornei ao mundo dos homens em janeiro deste ano, precisava decidir se continuaria carregando o rótulo vegano estampado na camiseta ou somente a essência em meu coração, decidi por continuar carregando os dois, porque acredito na FORÇA do Movimento Vegano e em sua necessidade de existir, apesar de discordar de algumas de suas premissas. Sou defensor de uma visão mais ampla do veganismo, algo que costumo chamar de o veganismo muito além do veganismo.” – respondeu Daniel.

Embora a maioria absoluta dos companheiros de Força Vegana tenham condenado a declaração do atleta, é importante registrar que uma pequena parte dos internautas viu na declaração uma forma corajosa de deixar clara a opinião dele.

Muitas pessoas que acompanham o trabalho e desempenho do ultramaratonista se disseram chocadas e decepcionadas com o fato de ele ter comido peixe, mesmo nas circunstâncias que foram apresentadas por ele.

O problema maior, no entanto, é que Daniel e outros atletas são exemplos em que as pessoas se espelham. Daniel nunca procurou isso, ao contrário, sempre se manteve longe dos holofotes. Mas seu desempenho e aparições em programas de TV e outras mídias o fizeram uma espécie de ícone vegano brasileiro, especialmente entre os praticantes de atividade física.

Ao declarar que se sentiu mais confortável pescando e matando o seu próprio alimento do que comendo macarrão morando na cidade, Daniel perpetua a ideia de que animais são alimento. Os veganos, em geral, lutam há décadas para desmontar essa imagem de que os animais existem para servir de alimento ao ser humano.

Se fosse uma situação de sobrevivência, se ele estivesse perdido na mata e não tivesse alternativas, provavelmente não seria criticado. Afinal, quando a fome crônica aparece, uma pessoa é capaz até de comer pedaços de outro ser humano ou de outros animais da forma que conseguir. Mas não foi o caso.

Nas palavras do próprio atleta, foram 3 meses longe da civilização acampado em uma praia da cidade onde vive, em Bombinhas, Santa Catarina. Ele voltava com certa frequência para a cidade para comprar comida, não havia nenhuma necessidade de matar um peixe, um marisco, uma gaivota, um porco-do-mato ou qualquer outro animal.

A página da equipe Força Vegana publicou uma nota (veja aqui) ainda na noite de segunda-feira (11) ressaltando que o grupo continua acreditando no veganismo abolicionista e que as opiniões individuais dos atletas envolvidos não representam, necessariamente, a visão do grupo como um todo.

Nós do Vista-se continuamos respeitando o atleta Daniel Meyer com quem sempre tivemos bom relacionamento, mas lamentamos as atitudes e declarações dele. Acreditamos que matar um animal para comer não deva ser encarado com uma integração com a natureza, independentemente se a vítima em questão é um peixe ou um búfalo selvagem.

Confira a entrevista da Daniel Meyer na íntegra e em PDF (baixe aqui).

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