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Estudante de medicina veterinária vegana relata o que achou de uma visita técnica a um frigorífico

Leia o relato da jovem.


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Uma estudante de medicina veterinária que mora e estuda no estado de São Paulo entrou em contato conosco para mostrar um texto sobre suas impressões a respeito de uma visita a um frigorífico. Em todas as faculdades brasileiras, os futuros médicos-veterinários têm visitas a frigoríficos para observar como são feitos os abates dos animais.

A estudante em questão, que pediu para não ser identificada, entrou para o curso de medicina veterinária por amar os animais, como quase todo mundo faz. Descobriu, da pior maneira, que o curso ensina também a matar animais.

Leia o texto da estudante abaixo:

O Abate

Sou vegana e estudante de veterinária. As duas coisas vieram do mesmo sentimento: o meu respeito pelos animais. Quando criança, amava me imaginar com os bichos, mas nunca imaginei que passaria por uma situação, na qual um animal seria morto diante dos meus olhos e eu não faria nada. Essa foi minha aula de abate.

Embora muitas pessoas não saibam, os veterinários também são responsáveis pela área de Produção Animal, além de aprender a tratar doenças, nos é ensinado a tirar vidas e como fazê-las ter um maior rendimento com um menor custo. É claro que não escolhi cursar por esse motivo, porém a minha profissão é generalista, então de certa forma tenho que passar por tudo isso. No caso do abate, até existia uma possibilidade de não assistir, contudo eu senti que precisava.

Tudo aconteceu no matadouro escola da universidade em que eu estudo. Eu tentava me preparar para ver a tão falada aula de abate, que sempre marca a faculdade. Entrei e o lugar tinha um cheiro forte, não preciso dizer que eu não estava nada confortável quando a pessoa responsável por acompanhar nossa turma perguntou se havíamos tomado café porque o primeiro abate era pesado. Olhei novamente e vi correntes e facões pelo galpão.

Nesse instante começou uma conversa sobre o procedimento que íamos assistir e como era feito, eu só conseguia sentir um nó na garganta e olhar para o chão. Não estava nada bem, só que não podia correr o risco de ter que sair. Fui determinada a relatar esse dia como o faço agora. Após as instruções, subimos uma escada que dava acesso ao piso superior em que conseguíamos visualizar o boi que seria abatido.

Ele não tinha nenhum nome, apenas números para registro da fazenda. Isso não mudou o jeito profundo que olhou para mim, eu pude senti-lo. Sinceramente, não sabia o que fazer. Na verdade, eu não podia fazer nada. Pensei que seria tão bom tirar um objeto de ouro do bolso e pagar pela sua vida, soltá-lo num gramado e viver felizes para sempre, só que não era um filme. Eu sorri, na hora eu simplesmente sorri. Um sorriso que diz que vai ficar tudo bem, no entanto, como você sabe, eu menti.

Logo o monitor da visita ordenou que o operador apertasse o gatilho de uma pistola de ar comprido, que o deixou caído e inconsciente. Em outra turma, foi preciso três disparos para que isso acontecesse. Não sei explicar o que se passou na minha cabeça no momento do disparo. Só sei que aquele barulho do tiro somado ao do corpo dele caindo ao chão foi o pior barulho que eu já ouvi em minha vida. Depois disso, o corpo escorregou por uma rampa, penduraram e cortaram o seu pescoço para que pudesse ser feita a sangria, que é a retirada de sangue do animal. Ele morreu.

Tinha apenas dois anos e meio e estava saudável. Morreu assim mesmo. Talvez algum pedaço do meu amigo esteja no seu prato, mas acho que você não iria reconhecê-lo. Nos segundos que eu sorri para ele eu vi que estava bem assustado como se pudesse prever a morte. Talvez algum pedaço dele esteja na sua bolsa de couro, mas acho que você não iria reconhecê-lo. Eles devem parecer todos iguais da sua perspectiva. Da minha, eles são únicos.

Após o abate, três funcionários tiravam o couro dele, enquanto aprendíamos sobre contração muscular. Retiraram a cabeça e os órgãos foram jogados em uma mesa para serem comercializados. Ainda deviam estar quentes. Ele foi serrado ao meio, lavado, pesado e de repente ele não era mais ele, era carne, era osso, era nada. Minha vontade era de pegar todas as partes que lhe foram tiradas e juntá-las, como uma criança junta uma massinha. Ver se voltava a vida.

Quando tudo acabou, fomos incentivados a aplaudir a pessoa que nos acompanhou durante o trajeto com argumentos de que “alguém tem que fazer” e “essa era a parte chata”. Na verdade, não precisamos fazer isso com os animais. Podemos viver e deixá-los viverem. Abra os olhos e veja ao seu redor, se você não come o seu cachorro, por que comeria outro animal? Você pode mudar isso: seja vegano!

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