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Peter Singer, autor do clássico livro “Libertação Animal”, não acredita na libertação animal


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Quão flexíveis podemos ser com atos imorais como explorar animais?

Por Fabio Chaves, fundador e infoativista do Vista-se. Este artigo é apenas uma opinião. | Um dos mais famosos nomes a circular nas discussões sobre os direitos animais esteve no Brasil no final de agosto para algumas palestras. Em Porto Alegre e em São Paulo, o filósofo australiano Peter Singer falou sobre ética de forma ampla. Na cidade de Campinas, interior de São Paulo, a fala foi mais específica, e tinha o instigante título de “Ética na Alimentação”. Não tive dúvidas e viajei até lá para acompanhar o que ele tinha para falar. Até então, embora não tenha lido o livro mais famoso dele, o tinha como uma figura lendária e inspiradora.

Ao chegar ao espaço onde acontece o Café Filosófico, evento patrocinado pela CPFL (companhia de energia elétrica do interior paulista), me deparei com uma estrutura primorosa e com muitos interessados na palestra, embora tenha acontecido no meio da tarde de uma sexta-feira. Consegui tranquilamente meu lugar em uma das mesas – com fone de ouvido para tradução consecutiva, inclusive – perto das 14h15.

Pouco depois das 14h30 já era possível ver Singer saboreando algumas frutas brasileiras em uma mesa mais ao fundo. No cardápio do espaço mantido pela CPFL, no entanto, “lombinho”, coxinhas de frango e croquetes de carne como pratos principais. Algumas pessoas não se intimidaram com o título da apresentação de Singer e pediram estes produtos. O cheiro de carne antes do início da palestra incomodava um pouco, mas não durou muito. Rápido, os espectadores desatentos comeram suas refeições enquanto conversavam.

Aproveitei o tempo que tive para ir até um canto do lugar onde estavam sendo vendidos exemplares do livro “Libertação Animal” e garanti o meu. Pretendia ler a famosa obra o quanto antes. Eu ainda não sabia, mas desistiria disso minutos depois.

Pontualmente às 15 horas, Singer subiu ao palco, cumprimentou o público de forma simpática e começou sua explanação sobre sua visão de “ética na alimentação”.

Nos primeiros minutos da apresentação, eu estava feliz e mal conseguia conter a satisfação de estar na plateia de um senhor tão importante na causa animal. O livro “Libertação Animal”, lançado em 1975, é um divisor de águas e foi por causa dele que muitas pessoas se tornaram veganas. Até hoje, o livro é um sucesso de vendas e rende críticas apaixonadas pelo mundo.

Porém, aos poucos eu percebia que ele dizia coisas que não faziam sentido. Em alguns momentos, inclusive, retirei os fones de ouvido na esperança de que fosse uma tradução mal feita. Mas, como meu inglês não é dos mais afiados, coloquei novamente os fones. O termo “bem-estar”, tão polêmico entre os ativistas da causa animal, surgia na boca de Singer quase tanto quanto a palavra “animais”, e nada de surgir um “vegano” ou “veganismo”.

Confesso que nunca ouvi falar nada a respeito de Peter Singer que me fizesse acreditar que ele não é vegano. Um dia antes da palestra em Campinas, no entanto, vi pessoas comentando no Facebook que ele é a favor de zoofilia e que já escreveu sobre isso. Fui à palestra com o intuito de perguntar a ele sobre sua posição em relação à zoofilia (eu tinha certeza que ele desmentiria e diria que é contra).

Contudo, conforme os minutos passavam, outra pergunta se fez mais importante em minha mente. Como eu sabia que não teria chance de fazer duas perguntas, decidi que ia perguntar diretamente a ele se ele é vegano. Até às 15 horas da sexta-feira, essa pergunta não faria o menor sentido para mim, porque, na minha inocência, alguém que fala sobre “Ética na Alimentação” só poderia ser vegano. Ledo engano.

Quando Peter Singer terminou sua fala, eu já não sabia mais o que faria com o livro que comprara pouco antes. Em vários momentos da palestra, Singer deu a entender que o veganismo é algo utópico e impossível (ou quase impossível) de ser aplicado. Usando outras palavras, vez ou outra ele legitimava o uso de animais para alimentação, desde que eles não sofressem muito. Soube depois que ele sempre foi um utilitarista, ou seja, não vê nenhum mal em o ser humano usar os animais para seu benefício.

Na sessão de perguntas ao palestrante, um internauta participou indagando a Singer o seguinte (resumindo): “Não seria melhor educar as pessoas para o veganismo do que encontrar formas de matar animais com menos dor?”. Um riso contido, baixinho, começou a surgir em algumas pessoas da plateia. Para minha surpresa, elas encontraram respaldo no rosto de Singer, que também sorriu de forma cínica, como se estivesse cansado de ouvir este tipo de questionamento. Neste momento, eu tive certeza de que estava no lugar errado, ouvindo a pessoa errada.

Aos 51 minutos e 40 segundos do vídeo oficial da palestra divulgado pela CPFL (assista aqui), eu perguntei, de forma direta e pessoal: “O senhor é vegano?”. Complementando a questão, perguntei se ele indica o veganismo para uma alimentação mais ética e também se uma pessoa que consome produtos de origem animal pode considerar que tem uma alimentação ética.

Ele disse que não é vegano. Disse que é difícil encontrar alimentos completamente vegetarianos, especialmente quando viaja. Na minha cabeça, ao mesmo tempo em que ele falava: “Oi? O senhor viaja dando palestras sobre ética na alimentação consumindo uma alimentação que não é ética?!”, mas isso eu não disse, e aguardei o término da resposta. Ele disse ainda que não acredita que seja realista achar que todas as pessoas vão se tornar vegetarianas da noite para o dia. Disse que acha que vai ser um processo a longo prazo, se é que vai acontecer.

Quando acabou a palestra, houve uma pequena sessão de autógrafos. Com o livro em mãos, fui até ele e, enquanto ele assinava, pedi para que ele se tornasse vegano, que desse o exemplo. Ouvi um vago e tedioso “Estou tentando, estou tentando…”

Assistam ao vídeo da palestra na íntegra (assista aqui) e tirem suas conclusões. Para mim, foi uma completa decepção. Embora não tire o mérito de todo o fomento que essa obra trouxe, eu não pretendo ler o livro “Libertação Animal” sabendo que o autor daquelas palavras está há mais de 40 anos espalhando por aí com palavras e com seu exemplo que a libertação animal não é possível.

Artigo complementar:
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