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Biólogo critica o extermínio de garças em Fernando de Noronha


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No último domingo, o programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu uma reportagem sobre o extermínio de garças em Fernando de Noronha. As aves estão se multiplicando rapidamente e não estão encontrando predadores naturais por lá, por isso, uma superpopulação do animal foi constatada e o governo contratou adestradores com gaviões para capturá-las.

Na matéria, pouco foi falado sobre a crueldade com os animais. O tema principal foram os prejuízos para a aviação, caso as garças continuem se multiplicando na região. Assista à reportagem aqui.

Em reportagem semelhante publicada no portal G1, podemos destacar a seguinte frase: “Entre a captura com gaviões e com armadilhas, na primeira fase do trabalho, concluída neste mês de fevereiro, foram eliminadas 168 garças, incineradas após a eutanásia.” Confira aqui a reportagem do G1 na íntegra.

O ViSta-se consultou o biólogo vegano Guilherme Carvalho que, gentilmente, enviou os comentários abaixo para esclarecer melhor a situação aos nossos leitores.

“A superpopulação de espécies animais invasoras é um problema comum e que geralmente não tem solução ideal. Os animais que colonizam um determinado ecossistema e não encontram predadores não são “culpados”, e devem ter seus direitos respeitados, mas ao mesmo tempo os animais e o ecossistema locais precisam ser preservados de eventuais danos e até extinções de espécies causadas pelos novos habitantes.

Essa equação frequentemente não encontra solução, e é pra mim difícil apontar qual seria o caminho mais parcimonioso e mais respeitoso para com a vida. Às vezes, com um trabalho bem feito, pode ser possível intervir nos fatores que facilitam a proliferação da espécie, minando o sucesso reprodutivo daquela população. No caso de Noronha, segundo a reportagem, a destinação adequada do lixo – por mais logisticamente complexa que seja, devido ao isolamento do arquipélago – poderia ser um caminho possível, mas talvez não resolvesse o problema completamente.

Há também maneiras de manejar diretamente a fauna sem necessariamente matar os animais. Se houvesse necessidade, por exemplo, de remover orangotangos de uma área prestes a ser inundada para uma represa qualquer, com certeza os órgãos ambientais não exterminariam os animais; em vez disso, capturariam, sedariam e relocariam os orangotangos para outra área. Acontece que essa operação de manejo é mais custosa, especialmente em se tratando de milhares de garças sendo retiradas de uma pequena ilha no Atlântico. Outro caminho a se pensar seria a esterilização de garças selecionadas de acordo com um entendimento da estrutura populacional, mas isso seria um trabalho gigantesco e caro que as autoridades descartariam sem pensar duas vezes.

Embora lidar com espécies invasoras seja um desafio até mesmo para um biólogo que acredite e respeite os direitos dos animais, não devemos aceitar o extermínio como uma saída plenamente aceitável – ao menos não sem examinar cuidadosamente que alternativas existiriam. Acho a solução dada em Noronha particularmente inadequada do ponto de vista do respeito aos animais, porque envolve ao mesmo tempo o adestramento de uns animais silvestres (os gaviões) e o extermínio de animais (as garças).”

Guilherme Carvalho é biólogo, representante da ONG de proteção animal Humane Society International (HSI) no Brasil e coordenador do departamento de Meio Ambiente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

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