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Chef Ca Botelho fala sobre os desafios sociais das pessoas negras dentro do movimento vegano

Conheça a história dela.


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Coordenadora de Gastronomia Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), a chef Camila da Silva Botelho, ou apenas Ca Botelho (Instagram), como gosta ser chamada, é um exemplo de persistência e de resistência.

Vegana há um ano e meio, a paulistana faz ativismo  por meio da alimentação para promover o estilo de vida vegano. Ca Botelho tem três formações no Brasil na área gastronômica. Duas na Hotec, em São Paulo, e uma na IBMR, no Rio de Janeiro. Além dessas, a ativista traz na bagagem ainda alguns cursos curtos feitos em outros países.

Infelizmente, a diferença em número entre ativistas brancos e negros é grande no movimento vegano do Brasil. Conversamos com a chef sobre esse e outros assuntos relacionados. Confira abaixo.

Vista-se: Fale um pouco sobre sua trajetória, como é a sua família, se simples ou de posses, como foi sua infância e sobre possíveis preconceitos que já sofreu.
Chef Ca Boletlho: Cresci em uma família abastada, mas não por isso tive privilégios, apenas a sorte de ter pais negros que conseguiram mudar seus destinos dentre tantos. Mas nunca fui aceita entre os brancos. Para ser enxergada, sempre tinha que fazer uma palhaçada, contar uma piada ou algo engraçado, sambar, porque é só assim que eles nos veem. Meu pai não terminou a escola, filho de 7 irmãos e de mãe faxineira semi analfabeta, ele teve que ir trabalhar aos 13 anos e só terminou o colégio quando eu tinha 15 anos. Sei o valor dessa história, e luto por dias melhores aos meus.

Como você se tornou Coordenadora de Gastronomia da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)?
Sempre fui de ir atrás do que desejo e desta vez não foi diferente, faço parte de uma ONG (ONG Naamini) estamos construindo uma escola na África e estamos sempre buscando formas de arrecadar dinheiro. Então, faço jantares vegetais às cegas e perguntei para o Ricardo [presidente da SVB] se ele conhecia algum espaço e ele gentilmente me indicou e deixei aberta minha ajuda caso precisasse algum dia. Algumas semanas depois, ele me ligou e me convidou para ser coordenadora. Eu perguntei porque eu? Ele me disse: “Vi uma mulher muito decidida, dedicada, solidária. Tem tudo a ver com nossa visão”.

O que todos no movimento observam é que, infelizmente, ainda são poucos os ativistas negros nessa causa, especialmente mulheres. Você consegue explicar por que isso acontece?
A população negra é de 54%, mas a maior parte é classe baixa, pessoas que precisam trabalhar para sobreviver, e não viver, não dá tempo de pensar no outro se você não consegue pensar nem em você. Quem é que consegue fazer algo para alguém com fome? Não existe para eles o básico da educação, a alimentação. O veganismo é passado pelas mídias televisivas (da qual às vezes eles têm acesso apenas na casa da patroa) como algo de rico, algo inalcançável. Já negros com mais acesso, muitas vezes veem a carne como uma ascensão social, status. A causa animal é essencial pra mim! Mas está totalmente ligada a uma sociedade especista e racista e isso não necessariamente é culpa do movimento vegano, mas é uma consequência da sociedade na qual estamos inseridos. Onde acham que podem explorar seres de outra espécie por serem inferiores a eles assim como viam da mesma forma a escravidão. Algo muito importante é dizer que: a alimentação Ital que existe a séculos e é baseada em plantas, e negros já viveram isso em um continente (África) do qual é muito rico em todos os tipos de frutos.

Você já sofreu preconceito dentro do movimento vegano por conta da cor da sua pele?
Sim, algumas vezes. Um racismo incubado e outras bem descarado. Tudo depende do tipo de ambiente, quanto mais elitizado, mais incubado.

O que você diria a outros veganos negros que pensam em fazer projetos de ativismo vegano?
Sigam em frente e não deixem ninguém te parar. Já nos submetemos por mais de 400 anos, nossos ancestrais imploram por uma reparação!

Você acha que o movimento vegano poderia ser mais inclusivo com os veganos negros? O que você diria às pessoas veganas brancas sobre como fazer essa mudança para tornar o movimento mais acessível a todos?
Sim, eu acredito que pode. Precisamos abrir os olhos e os ouvidos para uma sociedade em um todo, o veganismo é um movimento com uma visão ética geral. Nosso dever é sermos empáticos, pensar antes de falar e tentar estudar antes de dizer qualquer coisa. ​​​​​​​Podemos ser sempre melhores do que somos, precisamos simplesmente nos amar mais.

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