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Conheça o fotógrafo brasileiro que dedica sua vida a registrar e denunciar atrocidades contra animais em fazendas do mundo todo


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No grupo dos heróis modernos, este brasileiro faz um trabalho difícil e necessário

Natural de Santa Cruz do Sul, cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, que fica a 150 km de Porto Alegre, Jonas Amadeo Lucas, conhecido como Jon Amad, vive em Madri, na Espanha, e dedica todo o seu tempo para a causa animal. Jon é um fotógrafo especializado em fotografia documental e investigativa e faz trabalhos com ONGs de todo o mundo.

Confira abaixo o bate-papo que o ViSta-se teve com ele, sobre seu dia a dia.

ViSta-se: Jon, quando você se tornou vegano e quais seus principais motivos para seguir a filosofia de vida vegana?
Jon: Em 2007, estava fazendo uma pesquisa acadêmica sobre a relação entre o comunicador e o receptor e me deparei com informações sobre como nos relacionamos com os outros animais. Imediatamente comecei a me aprofundar mais e mais no conceito de especismo e em como essa discriminação afetava negativamente as outras espécies. Foram duas semanas sem descanso. Me lembro de sair pela rua e sentir como se o mundo tivesse mudado ao meu redor: havia aberto os olhos, havia tomado a decisão de deixar de consumir animais. Uma noite, joguei tudo que não era vegano no lixo: foi a melhor coisa que fiz em minha vida.

Há quanto tempo você vive na Espanha? Como e quando começou a se envolver com a ONG Igualdad Animal?
Vivo na Espanha há quase seis anos. Um dia, caminhando pela rua, em Sevilla, me deparei com um pequeno cartaz onde se lia “Quer saber como ajudar aos animais?” e as informações sobre uma palestra. Fiz uma foto e algumas semanas depois estávamos eu e outras três pessoas em um salão onde cabiam quarenta. Nesse dia, escutei a fantástica palestra de Conchi Ponti – coordenadora da Igualdad Animal em Andaluzia – e tive certeza de que tinha que fazer muito mais, que somente ser vegano não era o bastante, tinha que ser ativista. Igualdad Animal estava em seu começo, e desde então, trabalho de forma consistente como fotógrafo e investigador.

Uma curiosidade é que, naquela ocasião, Conchi usava uma foto minha em sua apresentação. Era minha primeira foto de direitos animais de uma galinha protegendo seus filhos, que fiz em uma granja no interior do Rio Grande Do Sul, em uma viagem logo depois que me tornei vegano.

Jon no Facebook | Site oficial | Site da Igualdad Animal

Em quais países já fez investigação fotográfica em favor dos animais?
Fiz investigações ou reportagens na Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Marrocos, Holanda, Polônia, França, México, Argentina e duas ou três fotos no Brasil, há cinco anos.

Como você consegue entrar nas fazendas?
Depende. Há casos em que preciso criar uma história para que pensem que vou comprar alguma coisa, contratar ou fornecer algum tipo de serviço que interesse ao explotador; em outros casos, tenho que me disfarçar ou – quando nada mais é possível – preciso esperar que as luzes se apaguem para abrir a porta.

Você vai sozinho ou sempre é um grupo com múltiplas funções?
Depende do trabalho. Normalmente, é importante ter outra pessoa para gravar vídeo ou garantir a segurança, mas ainda que esteja trabalhando sozinho no local, sempre há outros ativistas trabalhando na investigação, seja buscando informações ou financiando o projeto.

Como fica a questão da emoção no momento das captações?
Muita gente me pergunta se com o tempo os olhos se acostumam. Pode ser que para alguém seja assim, mas para mim é o contrário. Cada vez é mais difícil testemunhar e registrar o que existe do outro lado das paredes ou dentro das jaulas. Por outro lado, nos dias mais duros, quando algum trabalho parace impossível ou interminável, essa mesma dor é o que me faz seguir em frente, sem parar para descansar.

“Me lembro particularmente de um dia em que, durante uma investigação de atuns na Itália, mataram mais de trezentos atuns a poucos centímetros de minha câmera. Ao terminar, estava coberto de sangue dos pés à cabeça.”

Durante o trabalho, algum animal morreu na sua frente?
Milhares. Me lembro particularmente de um dia em que, durante uma investigação de atuns na Itália, mataram mais de trezentos atuns a poucos centímetros de minha câmera. Ao terminar, estava coberto de sangue dos pés à cabeça e também a câmera (uma delas nunca mais voltou a funcionar). A sensação de impotência é inevitável quando se está com “alguém” que ainda vive, mas você já sabe que vai morrer em poucos minutos.

Você já chegou a se envolver com alguma situação a ponto de levar o animal para sua casa?
Nunca. Se houvesse resgatado cada animal que fotografei, teria parado na primeira granja e ninguém jamais conheceria suas histórias. Em uma investigação é importante ter claro o objetivo e registrar tudo que acontece, pois, infelizmente, são coisas que acontecem todos os dias em milhões de lugares e você só tem a oportunidade de testemunhar uma, e essa “uma” pode ser aquela imagem que fará com que mais pessoas se tornem veganas e, isso sim, vai salvar muito mais animais. Mas claro que me passa pela cabeça todo o tempo. Infelizmente, meu trabalho quase nunca tem um final feliz.

Há algum tipo de financiamento para equipamento, viagens, etc. ou você banca tudo do seu bolso?
Nenhum financiamento. Todo o meu equipamento é mantido por mim mesmo. Pelo tipo de exigência é um equipamento muito caro e, às vezes, muito difícil de comprar ou manter. Houve uma vez, que para comprar o equipamento para uma investigação submarina, tive que sacrificar o aluguel e, para economizar o dinheiro necessário, tive que dormir no meu carro por um tempo.

Hoje, cada vez mais pessoas ajudam com doações, o que posibilita que mais investigações aconteçam. Os custos das viagens normalmente são pagos pela organização, mas os ativistas normalmente pagam parte dos gastos.

Você trabalha apenas com investigação de direitos animais?
Sim. Dedico cada minuto do meu tempo para lutar pelos animais.

Cite 5 fotos que realmente te emocionam e fale um pouco sobre cada uma delas.

Os olhos desesperados das mães prisioneiras nas granjas de reprodução de porcos é uma das coisas mais tristes que alguém pode ver. Em jaulas do tamanho do próprio corpo, sem poder jamais relacionar-se com seus filhos, nem virar ou alcançar o próprio corpo nem nunca ver a luz do sol ou pisar a grama.

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Muitos animais são usados para publicidade ou festas e ninguém se dá conta de que são indivíduos escravizados que vivem separados de sua família em jaulas frias até o dia em que perdem o valor comercial e, portanto, suas vidas.

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Símbolo de liberdade, essa águia tentava voar e alcançar os céus, mas a corrente de 1M que a prendia fazia com que caísse uma e outra vez. As pessoas em volta comentavam algo, ou riam, e seguiam para ver a próxima jaula naquele zoológico.

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Tudo relacionado às touradas é cínico e hipócrita.

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Da tradição muçulmana, a “Festa do Cordeiro”, assim como o Natal da tradição Cristã, está baseada na execução e consumo de animais. As crianças aprendem a “coisificar” os animais e brincam com aqueles que, há um minuto atrás, estavam vivos.

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Você pretende voltar a morar no Brasil algum dia e fazer este trabalho aqui?
Morar no Brasil seria impossível, mas tenho alguns projetos de investigações que gostaria de fazer no Brasil, sem dúvida. Provavelmente irei no começo de 2013 para visitar minha familia e, com certeza, fazer valer a pena a viagem.

Com toda sua experiência dentro de fazendas, granjas e todos estes lugares de sofrimento, o que você poderia dizer a uma pessoa que acha difícil deixar de consumir laticínios, ovos e carnes?
A possibilidade de deixar de consumir produtos de origem animal não deve ser considerada de acordo com as mudanças que aportam ao consumidor, mas sim, de acordo com as mudanças que aportam ao que é consumido.

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