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Ossos de boi carbonizados na produção de açúcar: lenda urbana ou verdade?

Você vai se surpreender com o que vai encontrar nas próximas linhas.


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Uma das questões mais enigmáticas que rondam o mundo vegano é o uso de ossos de boi carbonizados na produção de açúcar refinado. A ligação entre os dois produtos parece tão absurda que, a princípio, impede muitas pessoas de pesquisarem melhor a respeito deste assunto. De fato, parece inacreditável que para produzir aquele açúcar branquinho que conhecemos seja usado um produto tão bizarro no clareamento como ossos carbonizados. Infelizmente, a resposta para esta questão é mais complexa do que um simples “sim” ou “não”.

Foram tantos os e-mails de leitores interessados em saber se são mesmo usados ossos na produção do açúcar que resolvemos encarar o desafio e ir atrás de respostas, embora parecesse uma missão sem nenhum nexo.

Na manhã desta sexta-feira (14), entramos em contato com usinas de processamento de açúcar e marcas conhecidas que chegam à casa de praticamente todos os brasileiros. O assunto é tão estranho que muitas assessorias de imprensa demonstraram surpresa com o questionamento. Não é tarefa fácil chegar até a área técnica das empresas para conversar sobre ossos no açúcar. Tentamos respostas nas empresas Açúcar União, Açúcar Guarani e Açúcar Caravelas. As três assessorias de imprensa não souberam responder prontamente e solicitaram o envio da pergunta por e-mail, para averiguação junto à área técnica. Ligamos também para a UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), que também pediu que a dúvida fosse encaminhada por e-mail.

Em paralelo às ligações, pesquisamos na internet e pudemos observar que quase nada se falou sobre isso de forma segura até hoje. Em dezembro de 2012, a página “Olhar Animal” publicou uma resposta do biólogo Sérgio Greif, ativista vegano e mestre em Alimentos e Nutrição:

“Açúcar é, em geral, vegano, o que pode acontecer é que algumas vezes, no processo de clareamento do açúcar refinado, se utiliza char de ossos (ossos carbonizados moídos) como adsorventes em uma mistura com o açúcar (posteriormente o char é retirado). É como se fosse um carvão, mas de origem animal. De um levantamento que fiz em 1999, as grandes usinas não estavam mais usando char de ossos para clarear o açúcar, mas a gente ainda pode encontrar açúcar clareado por esse processo em alguns lugares, sim.” – diz Greif.

A resposta de Greif parece, à primeira vista, difícil de acreditar. Continuamos a pesquisa e – pasme – existe uma empresa brasileira chamada Bonechar (Bone – Char: “Char de Ossos”, em inglês – exatamente como disse Greif) que é líder na produção de carvão de ossos em todas as Américas (veja aqui). A empresa fica em Maringá, no Paraná.

Funciona assim: a empresa coleta ossos de matadouros e açougues e faz um tratamento para retirada de gordura e restos de carne e sangue. Então, os ossos são expostos à chuva e sol por, no mínimo, 90 dias, para que fiquem completamente secos. Depois, os restos são cremados a 800ºC moídos. O resultado é um carvão ativado, que pode ser usado no clareamento do açúcar e também em refrigerantes e óleos, para a retirada de moléculas ou resíduos que dão cor aos produtos. Você pode conferir as informações sobre os usos deste produto no próprio site da empresa.

Felizmente, o clareamento do açúcar e todos os outros resultados atribuídos ao uso de carvão de ossos podem ser conseguidos com outras tecnologias mais recentes.

Em uma matéria publicada no UOL em maio de 2012 (veja aqui), o diretor da Bonechar lamenta o fato do mercado brasileiro não utilizar de forma significativa seu produto. Ele alega que a sua empresa vive basicamente da exportação. “Aqui, o mercado é dominado por produtos químicos, que são mais baratos.” – disse.

Segundo a mesma matéria, a Bonechar é a única empresa na América Latina a produzir carvão de ossos. Como o carvão de ossos tem vários usos e não só para clareamento de açúcar e a Bonechar admite que as vendas para o mercado interno são quase nulas, as chances de alguma usina ainda utilizar este produto no clareamento do açúcar são bastante baixas.

Como não conseguimos uma resposta oficial de nenhuma das empresas que contatamos até o fechamento desta matéria, não é possível afirmar que não haja açúcar resultante do clareamento por carvão de ossos no mercado brasileiro, mas, diante dos fatos apresentados, acreditamos que não exista.

Caso alguma das empresas retorne os e-mails nas próximas horas ou dias informando algo diferente do concluído nesta matéria, nos comprometemos a publicar um novo texto sobre o assunto.

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