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Com critérios absurdos, estudo diz que alface é pior para o meio ambiente do que bacon

Entenda como os pesquisadores chegaram a essa conclusão.


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Na última segunda-feira (14), um novo estudo foi publicado pela Universidade Carnegie Mellon, uma instituição privada que fica em Pittsburgh, nos Estados Unidos. A íntegra do estudo não pode ser lida gratuitamente. O documento está à venda por cerca de R$ 150,00 (veja aqui, em inglês).

A universidade chamou a atenção logo no título do texto de apresnetação do estudo: “Dietas vegetarianas e ‘saudáveis’ podem ser mais nocivas para o meio ambiente” (veja aqui, em inglês). A frase imediatamente inserida abaixo do título sacramenta a polêmica induzida: “Estudo da Carnegie Mellon descobriu que comer alface é mais do que três vezes pior em emissões de gases do efeito estufa do que comer bacon”.

Em poucas horas, jornais importantes do mundo inteiro começaram a divulgar o estudo, quase todos baseados apenas nessa introdução “bombástica”. A impressão que fica é que os jornalistas estavam em suas mesas comendo e idolatrando o bacon apenas esperando um estudo que os representasse. Mas vamos entender quais foram os critérios usados pelos pesquisadores para que chegassem a essa conclusão tão controversa.

Antes de tudo, é bom lembrar que a ONU – Organizações das Nações Unidas (veja aqui) e o Ministério da Saúde (veja aqui) já publicaram documentos afirmando que dietas que incluem produtos de origem animal são menos eficientes para o meio ambiente. Vamos citar apenas essas duas afirmações, mas são milhares. Há inclusive, estudos da própria Universidade Carnegie Mellon afirmando isso (veja aqui, em inglês).

Vamos voltar ao estudo recente sobre alface e bacon, liderado por Michelle S. Tom, Paul S. Fischbeck e Chris T. Hendrickson. Os pesquisadores consideraram para o seu trabalho as calorias dos alimentos e a água gasta para produzí-los.

Para produzir bacon é preciso criar um porco durante alguns anos oferecendo grãos e outros alimentos vegetais que também gastaram água e espaço para serem produzidos. A água gasta na limpeza dos locais onde esses animais ficam, a água que eles bebem, os dejetos que eles geram (e o tratamento que precisa ser dado a esses dejetos) e os gases que os porcos emitem diretamente no meio ambiente também precisam entrar na conta.

Tem ainda a água que irriga os grãos que serão transformados em ração, o transporte dessa ração para as fazendas de criação de porcos e também o transporte dos próprios animais para o matadouro. No matadouro, mais água é utilizada e mais dejetos são gerados. Tudo isso é prejudicial ao meio ambiente.

Em um livro gratuito (veja aqui) recentemente lançado pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o departamento de meio ambiente da entidade afirma o seguinte: “Em média, para alimentar os animais criados para consumo são usadas aproximadamente dez vezes mais calorias do que as contidas em sua carne. Na prática, cada caloria de carne produzida requer o uso de áreas de cultivo pelo menos seis vezes maiores do que o necessário para produzir uma caloria com cultivos vegetais. No caso da produção de carne bovina, a área necessária pode ser até dezenove vezes maior.” – diz o documento.

Então, como pode o alface ser pior que o bacon para o meio ambiente? Como os pesquisadores consideraram basicamente apenas calorias para os seus cálculos, concluíram que se uma pessoa substituísse todas as calorias vindas de bacon que consome por calorias vindas do alface, a troca seria prejudicial para o planeta.

Segundo a TACO – Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (veja aqui), 100 gramas de bacon – que na TACO aparece como “toucinho” – tem 697 calorias. Já em 100 gramas de alface são encontradas apenas 9 calorias. A diferença calórica gritante permitiu o cálculo claramente tendencioso do estudo.

Para que uma pessoa realmente prejudicasse mais o meio ambiente comendo alface, ela precisaria ingerir quase 8 quilos da hortaliça ao invés de saborear um sanduíche com cerca de 5 fatias de bacon. Seria o mesmo que comer aproximadamente 40 pés de alface em apenas uma ou duas refeições. Fizemos um rápido infográfico para ilustrar a loucura que seria fazer isso, veja no fim da matéria.

Não ficaremos surpresos se, em breve, um outro estudo nessa linha de raciocínio concluir o seguinte: “Caminhar é mais prejudicial à saúde do que andar de carro”. Para chegar a essa manchete, bastaria considerar a distância entre Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e Fortaleza, a capital do Ceará. Os 4.000 km de distância poderiam ser percorridos de carro e de forma tranquila em 7 dias, parando para dormir e conhecendo outras cidades. Já caminhando, seriam 32 dias andando dia e noite sem parar. É fácil concluir, dessa forma, o que seria mais prejudicial à saúde.

A conclusão do estudo da Universidade Carnegie Mellon é, portanto, completamente absurda e tendenciosa. Não por acaso, vai na contramão de tudo que foi publicado sobre esse assunto até hoje.

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