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A carne nas mãos do comodismo – Parte 1


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por Mariana Pauletti Lorenzo
A maioria dos Homo sapiens sapiens nos dias atuais possui a carne em sua dieta por mero comodismo. Não é por instinto como muitos defendem. Instinto foi quando o Homo habilis em 2 milhões de anos a.C. passou a comer carne por questões de sobrevivência. E isso ocorreu por causa da diminuição de vegetais disponíveis devido às oscilações climáticas, que levou o H. habilis a comer cadáveres de animais.

Durante toda história da humanidade a maneira de preparar a carne foi se transformando aos poucos, sendo que hoje ela praticamente nunca é comida crua, e é sempre bem temperada, enganando seu verdadeiro gosto.

Os humanos compram a carne embaladinha nos mercados, não mostrando seu passado cruel. Poucos são aqueles que pensam no processo todo que ocorreu para aquela carne chegar aos mercados. Todo o sofrimento e sangue que foi derramado ficam de baixo do tapete, ninguém vê ou busca saber. As pessoas estão dominadas pelo comodismo e pela preguiça. Cegas pela ignorância e hipnotizadas pelo sistema, vivem à mercê dos dias, na sombra. Aqueles que vão atrás do que não é visto diretamente, atingem os raios solares e, aos poucos, ficam cada vez mais iluminados.

“A repugnância por carne não é fruto da experiência, e sim um instinto. Parecia mais bonito viver com pouco e comer simples em vários aspectos”, afirma Henry David Thoreau (1854).

Ao ficar ciente da vida sofrida que bilhões de animais possuem diariamente, não é nobre da pessoa continuar contribuindo para isso. Conclui-se que é mero egoísmo. Se a pessoa se sente bem sendo egoísta e também, de certo modo, má, ela não passa de uma pessoa impura e de espírito sórdido. Se ela sentiu-se atingida ao ponto de mudar de hábitos, tirando a carne de sua dieta, mostra-se de bom espírito e pura – a meu ver.

O homem moderno não olha para uma vaca, por exemplo, e deseja sua carne. O que ele deseja é o prato feito – a carne cozida e temperada. Pode-se dizer, portanto, que o que é desejado pelo homem é o produto de um longo processo cruel, cuja persistência consiste no resultado de milhões de anos de costume.

Nas palavras de Thoreau (1854):

“Talvez seja ocioso perguntar por que a imaginação não se reconcilia com a carne e a gordura. Fico satisfeito que assim seja. Não é uma vergonha que o homem seja um animal carnívoro? Certo, ele pode viver e realmente vive, em grande medida, predando outros animais; mas é uma maneira sórdida de viver – como sabe qualquer um que põe armadilhas para coelhos ou abate borregos -, e quem ensinar o homem a se limitar a uma dieta mais inocente e saudável será visto como benfeitor de sua raça. Qualquer que seja minha prática pessoal, não tenho dúvida de que faz parte do destino da espécie humana, em seu gradual aperfeiçoamento, deixar de comer animais, tal como tribos selvagens deixaram de se comer entre si quando entraram em contato com os mais civilizados.”

Sim, é uma vergonha que o homem seja um animal carnívoro. O que ele aprecia, na verdade, não é da carne em si, mas de uma transformação desta em um novo sabor. Por um lado é carne, claro. Por outro, é mais um prato dos humanos, todo temperado e transformado, cujo verdadeiro sabor só os demais carnívoros conhecem e que instintivamente degustam da carne crua com toda vontade. Do mesmo modo como o homem acostumou-se a comer carne, pode acostumar-se substituí-la por grãos e vegetais que tenham nutrientes semelhantes com o que ela possui.

Referência bibliográfica:

– THOREAU, Henry David. Walden. 1854. Coleção L&PM Pocket. Rio de Janeiro. 2010.

Fonte: http://marianaideiasforadacaixa.wordpress.com/

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